terça-feira, 11 de novembro de 2014

Maratona do Porto 2014, o relato...

A Maratona do Porto era o meu grande objectivo desportivo do ano.

Desde Dezembro do ano passado e durante seis meses, foi a única prova do calendário de 2014.

Logo no início do ano um acidente no núcleo familiar obrigou-me a cancelar os planos desportivos até a situação voltar ao normal. Assim, apenas  voltei às provas oficiais em Junho.
Durante a “paragem”, ainda mantive alguma regularidade nos treinos, todavia em volume muito baixo, cerca de 150 quilómetros por mês e, exclusivamente em estrada. Não podia sequer arriscar uma entorse, queda ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar a mobilidade diária.

A Maratona do Porto de 2013 tinha-me ficado “atravessada”, era ponto de honra voltar lá para ajustar contas.
Tinha sido uma prova terminada à conta da força da teimosia, muito por culpa das cãibras que atacaram forte à passagem pelo túnel da Ribeira. Os restantes sete ou oito quilómetros foram um suplício enorme, com inúmeras paragens, tendo inclusivamente equacionado não terminar a prova por absoluta incapacidade física.

Assim, “nem que a vaca tossisse” tinha de lá voltar para “fazer a prova dos nove”.
O trauma de 2013 foi de tal ordem que, até à véspera da maratona de 2014, o simples rever da passagem do túnel da Ribeira provocava-me cãibras!!

Entretanto em Outubro, aconteceu poder participar na Maratona de Lisboa.
O nível de confiança estava em baixo. Geri a corrida um pouco a medo, refreando o entusiasmo na primeira metade com receio de um possível colapso lá para o final.

De facto, terminei sem problemas, com três minutos apenas, a mais do que no Porto em 2013.
Psicologicamente foi bom, uma vez que ajudou a quebrar o enguiço que tinha ficado alojado no subconsciente.

Não obstante, a imagem do túnel da Ribeira continuava-me a causar suores frios.
A operação “Maratona do Porto - 2014” começa na segunda metade da semana, com um reforço na alimentação, impondo as massas em quase todas as refeições.

Na véspera, vou com o colega de equipa Paulo Amaro ao Porto a fim de levantar os dorsais. Acabamos por fazer o lanche com a Pasta Party.
Resumo gastronómico do dia:

Almoço – Esparguete
Lanche (Pasta Party) - Esparguete

Jantar - Esparguete

No dia “D”, ou melhor, no dia “M” de Maratona, chegamos cedo às imediações do parque da cidade, onde um dos autocarros disponibilizados pela organização nos levou até à zona da partida.
Àquela hora fazia um frio de rachar.

O tempo de espera até ao início da corrida foi passado em trote ligeiro e exercícios de aquecimento, não por apenas por razões de ordem atlética, mas também para não enregelar! 
Por fim lá chega a hora e a massa humana começa a mover-se.

Estava na estrada a Maratona do Porto – 2014.
Os primeiros quilómetros são feitos em pelotão compacto, nunca havendo hipótese de progredir grande coisa.
Seguia na cavaqueira com um colega que tinha encontrado na partida e que já não via há mais de dez anos. Nem sabia que ele corria, mas em abono da verdade, há dez anos eu também não corria! 

Até final da avenida da Boavista, seguíamos os PaceMakers das 3h30, embora num ritmo bem superior ao esperado, uma vez que tinha havido alguma demora na parte inicial, sendo necessário recuperar o tempo perdido.
Quando os PaceMakers retomaram o passo correcto seguimos em frente, deixando-os para trás.

No fim da longa avenida da Boavista toma-se o caminho para Matosinhos e aí sim, começa a haver espaço para gerir o passo de modo mais personalizado, isto é, sem interferência positiva ou negativa do pelotão.
Chegados a Leixões dá-se a primeira inversão de marcha rumo à Foz do Douro.

A partir de um certo ponto entre Matosinhos e a Foz, a proximidade do mar traz uns borrifos de maresia muito agradáveis.
Com cerca de uma hora e vinte de corrida como o primeiro cubo de marmelada, dos três ou quatro que levava. Além dos cubos de marmelada, levava também um Gel comprado de véspera na feira da Maratona.

Actualmente é raro gastar dinheiro em Gel energético. Tenho a minha própria “Poção Mágica” artesanal, mas infelizmente tinha-me esquecido dela em casa.
A receita do meu Gel caseiro é segredo, mas vou revelá-lo apenas para as minhas amigas/meus amigos:

·         Café Ultra forte, de duas passagens em cafeteira italiana

·         Mel

·         Marmelada ou doce

·         Flocos de aveia

·         Nestum ou outros cereais disponíveis do filho
Misturam-se os ingredientes e passa-se tudo com a varinha até adquirir a consistência desejada. Depois é só carregar para sacos próprios, podem ser embalagens de Gel usadas, bem lavadas.
As vantagens são ao nível do preço e de ser um produto natural e sem substâncias estranhas.

Eventuais desvantagens, serão a menor durabilidade, virtude da não existência de conservantes e a necessidade de embalagens próprias, embora haja no mercado uns saquinhos de fecho rápido por cerca de 1 euro/50 unidades que bem podem resolver o problema.
Perto da meia maratona o colega com quem seguia começa a perder algum terreno e continuo sozinho como tínhamos combinado, embora ao início seria eu com mais dificuldade em acompanhar o ritmo.

Perto da Ribeira surgem alguns empedrados e quase toda a gente opta pelos passeios ou lages de superfície mais lisa.
De facto, já no ano anterior tinha passado alguns dissabores com a irregularidade dos empedrados que causam um desgaste enorme. Este ano tomei a opção de evitar este tipo de piso sempre que possível, fosse em que ponto da prova fosse.

Passa então a corrida pelos locais emblemáticos da Ribeira e Ponte D. Luís.
Já do lado de Gaia, o percurso segue junto ao rio até à Afurada onde existe o último retorno.

Na edição de 2013 houve ainda mais um ponto de retorno, do lado do Porto, que em boa hora foi eliminado!
Por fim aproxima-se o meu Adamastor, o túnel da Ribeira.

Até tremia só de pensar nele!
Entrei de pantufas, devagarinho, vencendo metro a metro, até que finalmente chega a luz do dia!

Ufa!!! Está feito! Agora até de gatas acabo a Maratona!
Bom, na verdade ainda faltam uns quantos quilómetros.

Para mim, é a parte mais aborrecida da prova.
Sabemos que a meta está no Parque da Cidade à nossa espera, mas para lá chegar temos de massacrar as pernas ainda mais um pouco.

É uma etapa que mais parece uma penitência, mesmo quando tudo vai bem a nível físico.
Ia a pensar que sentido fazem estes últimos quilómetros?!

A Maratona seria bem mais simpática se tivesse apenas trinta e cinco quilómetros!
Tenho de descobrir quem foi o fundador da cidade de Maratona. Bem podia ter arranjado um local mais perto de Atenas…

Por fim, corto a meta, ao fim de 3 horas 23 minutos e 33 segundos de tempo oficial e 3 horas 22 minutos e 14 de tempo líquido.
Balanço positivo.

Uma prova sem contratempos nem problemas físicos, muito por conta da contenção e gestão de esforço efectuada logo desde início.
O tempo colaborou, não chovendo durante a corrida, embora pouco depois de ter terminado caiu uma valente carga de água que apanhou muitos atletas ainda em prova.

Destaque para o PelaEstradaFora Paulo Amaro que, concluiu a Maratona em 3h 22m 09s (3h 20m 51s, chip).
Por fim, gostava apenas de referir que é uma pena as duas únicas Maratonas de estrada em Portugal fiquem tão próximas uma da outra no calendário.

Para quem quiser fazer as duas provas constitui um esforço e desgaste enorme. Para já não falar de alguns “tolinhos” que ainda metem outra maratona de trilhos pelo meio!
As “autoridades competentes” que pensem em desfasar no calendário as Maratonas de Lisboa e do Porto, julgo que ficávamos todos a ganhar!

Até para o ano e boas corridas!

Alfandega do Porto - Pasta Party
 
Alfandega do Porto - Pasta Party


Algures perto de Matosinhos
 
O PelaEstradaFora Paulo Amaro na chegada à meta
Chegada à meta (foto: marathon-photos)


Chegada à meta (foto:Lina Branco Batista)

Chegada à meta (foto: marathon-photos)



10 comentários:

  1. Excelente, nunca tinha visto uma receita para gel caseiro! eheh Será que dá pra fazer na bimby? :) Esses empedrados matam uma pessoa, sofri bem com eles o ano passado.. Ah, e aquele retorno já no Porto realmente foi muito bem retirado! Parabéns, grande tempo e grande prova!

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    1. Podes utilizar à vontade a receita secreta da minha "Poção Mágica". Temos de ser uns para os outros :)
      Abraço

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  2. Muito bom...e grande tempo. Mais uma vez parabéns!. O Túnel da Ribeira tb costuma ser um problema para mim, mas este ano até que o fiz bem. Eu não acho positiva a eliminação do retorno no Porto, pois obrigou-nos na Afurada a ir um pouco mais à frente onde apanhamos aquela subidinha que me massacrou - mas isso foi pq andei rápido de mais ao inicio :)
    Aquele abraço

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    1. Oi Carlos! A forma como encaramos aspectos da corrida como o deste último retorno tem que ver como nos está a decorrer a prova. De qualquer modo, quando cheguei à ponte D. Luis vindo de Gaia, fiquei mesmo contente por não ter de subir aquele pedaço de rio (e mais uma rampa de acesso a ponte). Mas isso é tudo relativo e varia de pessoa para pessoa e de momento para momento. Grande abraço e ainda estou a pensar como foi possivel irmos a correr a meia duzia de segundos um do outro e não nos ver-mos?!

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  3. Parabéns por teres vencido o teu Adamastor e pelo excelente tempo. Nem pareces aqueles "tolinhos" que meteram uma Maratona de trilhos pelo meio... Ãhh... quer dizer, estavas a falar de ti? ;)
    Bjs

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    1. Obrigado! Pois é,... há por aí gente que quer ir a todas e depois, queixam-se com dores nas pernas...
      Enfim..
      (Posso dizer em minha defesa que, não fui o único, eh eh :))
      Bjs

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  4. Muitos parabéns pela excelente Maratona!

    Um abraço

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    1. Obrigado e igualmente para ti também!
      Encontramo-nos lá para o ano!
      Abraço

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  5. Em primeiro lugar muitos parabéns pelo excelente tempo.
    Relativamente à passagem pelo túnel da ribeira, este ano custou bastante menos que nos anos anteriores já que retiraram o empedrado que era muito irregular, e colocaram um tapete de asfalto, o que nesta fase da corrida é um bónus.
    Tenho pena que tenham eliminado o ponto de retorno a caminho do freixo, o que obrigou a que o retorno da afurada fosse mais à frente, o que obrigou a umas subidas que não estavam previstas.

    Um abraço

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    1. Obrigado pelo comentário. O retorno da Afurada estava bem mais longe de facto, e logo ao virar tínhamos uma ligeira rampa para vencer.
      Mas como já disse num comentário anterior, tudo é relativo e encarado de forma diferente de pessoa para pessoa, e de momento para momento. Deduzo que também fizeste a Maratona, pelo que, parabéns para ti também! Um abraço

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